O NOVO NORMAL? COMO MODELOS DE NEGÓCIOS DEVEM EVOLUIR EM UM MUNDO PÓS-PANDEMIA
Independente da região geográfica onde a pandemia Covid-19 tem se concentrado, todos alteramos nossas dinâmicas de trabalho e relacionamentos nestas últimas semanas.
Drasticamente, as principais variáveis que estruturavam nossas vidas sofreram este corte de descontinuidade. Enquanto na superfície nos adaptamos a fazer as reuniões por aplicativos virtuais em ambientes de home office, silenciosamente cresce uma gigantesca disruptura nas milhares de cadeias produtivas, que nos irá impactar definitivamente. Entendo que, mesmo após o controle da pandemia do ponto de vista médico e sanitário, jamais iremos nos comportar da mesma forma. O espectro de uma nova pandemia ou outros tipos de riscos, que venham a mudar tão dramática e rapidamente nossas vidas, passarão a fazer parte de todos os modelos de negócio.
Desde as cadeias de valor mais simples até as mais sofisticadas envolvendo milhares de fornecedores em diferentes partes do planeta estão sendo seriamente afetadas, diluídas ou mesmo destruídas. Após a “disruptura” inicial, entramos no estágio da “resiliência” que consiste em tentar atravessar os severos impactos da crise da melhor maneira possível. Seria como logo após um naufrágio, em alto mar em condições de água congelante, nosso instinto de sobrevivência direciona todo nossa capacidade física e mental para a única situação possível do momento, de se manter vivo e operacional para empresas e organizações.
À medida que o perigo deixa de ser iminente nossas energias renascem e nos dirigem para o afastamento mais distante possível deste estágio e a mente pode voltar a pensar e permitir ao corpo sair do extremo estado de estresse que foi solicitado. Entre os estágios “resiliência” e “reativação” as organizações irão concentrar todas suas equipes de gestão de crises nos esforços para poder voltar a operar, porém de que forma?
Centenas de indagações serão feitas, avaliadas e reprocessadas visando o posicionamento para o que se chama de “o novo normal”. Em um primeiro momento haverá a tendência a reproduzir os modelos anteriores, porém os impactos, que por um lado foram devastadores, também forçarão a busca de opções imediatas (resiliência) que talvez mesmo não sendo ideais, apresentarão direções para novas opções interessantes.
Centenas de organizações em todo mundo estavam em diferentes estágios dos seus processos de transformação digital, que certamente serão enfatizados visto que os agentes do ecossistema descobrirão ser muito possível e viável manter as atividades de negócios através da dimensão virtual, tolerando eventuais improvisações iniciais que rapidamente estão sendo ajustadas para modo operacional pleno.
Neste “novo normal”, muito provavelmente centenas de demandas presenciais serão ainda mantidas no ambiente virtual, por ambas as partes. Deste conceito, mesmo após os impactos da disruptura inicial, toda a cadeia de valor associada a transportes terá de ser reconstruída para retomar sua relevância e necessidade. Em consequência, isto irá impactar fortemente o redimensionamento da infraestrutura das redes de comunicações e velocidades de tráfego para poder suportar uma súbita e crescente demanda.
A concentração populacional nas grandes cidades surgiu pela necessidade de estarmos próximo dos ambientes de trabalho. Suportamos horas improdutivas de trânsito, riscos de violência, estresse e inúmeros outros desdobramentos diários pelo simples fato de buscarmos habitação o mais próximo e/ou logisticamente viável dos centros de geração de receitas.
Acredito que em uma rotação deste grande eixo para a predominância de ambientes virtuais (total, parcial ou híbrido) que não impactem descontinuidade das relações de trabalho, haverá uma tendência natural para o deslocamento para cidades médias e pequenas que ofereçam infraestrutura tecnológica compatível e qualidade de vida saudável.
Em paralelo às equipes de gestão de crises com perfil tático, penso que os CEOs terão a visão de também montar equipes num nível mais estratégico para desenvolver cenários alternativos para os estágios seguintes de “reavaliação” e “redimensionamento” dos negócios. Possivelmente estes movimentos serão em etapas ao longo dos próximos meses.
Após a volta ao trabalho, da melhor maneira possível (na metáfora do naufrágio que consegue sobreviver e voltar a pensar), provavelmente estas equipes irão desenvolver cenários que irão desde a eventual manutenção exata do modelo anterior a disruptura, ajustes localizados em componentes que se mostraram ineficientes durante a crise ou mesmo mudanças radicais do modelo de negócios e formato de atuação que poderá ser motivada por decisão própria ou em decorrência do novo papel do seu segmento de atuação no “novo normal”.
Dos mais de cinquenta domínios de segurança cibernética quais serão aqueles mais aderentes e de importância crítica para potencializar os negócios num ambiente de transformação digital e de resposta às brutais consequências do pós-Covid-19? O contexto de globalização do ambiente de negócios e da criação de cadeias de valor internacionais se estabeleceu pela necessidade da maximização de eficiência e lucratividade através da redução de custos de fabricação dentro de condições de prazos e preços de mercado aceitáveis.
As grandes multinacionais criaram sofisticadas cadeias de fornecedores em complexos acordos seguindo os conceitos do princípio do “equilíbrio de Nash”, nas interações e negociações entre competição e cooperação pelos diversos agentes envolvidos. Entretanto, a condição do equilíbrio se rompeu quando vimos claramente tensões geopolíticas, econômicas e comerciais interferirem nas decisões entre os agentes, tendo uma das partes tomado posição em detrimento das demais. As equipes estratégicas deverão apresentar aos CEOs modelos de reestruturação dos fornecedores considerando os eventos recentes, que poderão levar a criação de mosaicos granulares (com opções alternativas de imediata ativação) mais regionalizados ou mesmo localizados geograficamente mais próximos que, mesmo não tendo os mesmos índices de qualidade e preços, apresentem o vetor de disponibilidade para inesperadas necessidades emergenciais e não sendo afetados por tensões políticas ou disputas comerciais.
Será um grande desafio para os CISOs ter todas alternativas parametrizadas para poder ativá-las assim que forem demandados. Isto poderá consistir em aceitar ou desativar das redes milhares de usuários com acesso às determinadas aplicações no menor tempo possível para estarem aptos a executar suas funções.
Ao ativar uma determinada cadeia de fornecedores e os usuários com as devidas credenciais para um projeto, forma-se um dos múltiplos mosaicos possíveis e as identidades digitais nos mais diversos dispositivos terão de ser ativadas automaticamente, utilizando algoritmos de inteligência artificial, de acordo com cada perfil específico e níveis de contribuição para as tarefas designadas.
Neste ambiente de hiper conectividade 24 horas por dia, todos os dias da semana, a qualidade e velocidade do tráfego (redes 5G) será fator crítico de sucesso, bem como toda proteção e linhas de defesas contra os mais diversos tipos de ataques de negação de serviço. Identidades dormentes e não desativadas nos dinâmicos reagrupamentos dos mosaicos colaborativos serão certamente pontos vulneráveis que somente terá efetividade pela total automatização.
Ao longo dos estágios acima descritos e num ambiente de brutal reposicionamento entre as empresas, reflito sobre a aplicabilidade neste ambiente das cinco forças de estratégias competitivas de Michael Porter: rivalidade entre concorrentes; poder de negociação dos fornecedores; poder de negociação dos clientes; ameaça de produtos entrantes e ameaça de produtos substitutos.
Esta lógica pragmática, concebida e amplamente utilizada nos últimos anos, enfrentará os desafios da variável única deste momento. Poderá, de uma parte, oferecer inéditas oportunidades de rápido reposicionamento de empresas para posições de liderança ou punir severamente organizações ou até mesmo verticais inteiras e países em um mundo onde o “novo normal” chegará para todos.
Fonte: Leonardo Scudere / www.cio.com.br/
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