PEQUENAS LIVRARIAS DE BH CRIAM NOVAS ESTRATÉGIAS PARA SOBREVIVER
Inaugurada em 13 de março na galeria Vila Maria, no Bairro Padre Eustáquio, Região Noroeste de Belo Horizonte, a Livraria Páginas funcionou por cinco dias. Já na quarta-feira (18), fechou as portas. Trabalhando havia três meses no projeto, um braço da Páginas Editora, a jornalista e escritora Leida Reis está, obviamente, frustrada e temerosa quanto ao futuro frente à pandemia do coronavírus.
Mas ela não parou de trabalhar no projeto recém-lançado. Adquiriu um novo celular para vender via WhatsApp – também recebe pedidos no site da editora. É dessa forma que as livrarias de rua, de maneira geral negócios de pequeno e médio porte, estão tentando sobreviver. Vale lembrar que o mercado livreiro atravessa grande crise desde 2018.
“A gente está vendendo pelo Instagram e WhatsApp, algo que sempre fizemos. Só que operamos no modo guerra. Ninguém está vendendo muito”, afirma Bernardo Ferreira, proprietário da Ouvidor, mais tradicional livraria de rua de BH, que completou 50 anos em fevereiro. A loja fica na Rua Fernandes Tourinho, na Savassi, Região Centro-Sul, onde estão outras boas livrarias da cidade – como a Quixote e a Scriptum. Ferreira está trabalhando sozinho. Os cinco funcionários estão em casa.
“Antes de fecharmos, vendemos muitos infantis, pois vários pais estocaram livros para o período de quarentena”, comenta ele, que vai continuar lá “até quando tiver motoboy trabalhando”. Todas as livrarias ouvidas pela reportagem utilizam o serviço de entrega via motoboy, com acréscimo de taxa.
A Scriptum faz promoções. Como tem uma editora, dá descontos de 30% para títulos que ela própria lançou. Oferece também 40% de desconto para uma série de livros importados de psicanálise e o mesmo valor para títulos de editoras universitárias (UFMG, Unicamp e Unesp).
“Há 10 dias, quando as coisas começaram a piorar, começamos a nos programar”, comenta o proprietário, Welbert Belfort. A Scriptum já contava com venda on-line (por meio do site e das redes sociais). “Minha clientela não é só de Belo Horizonte. É uma logística difícil, pois o livro não vai sozinho para os Correios”, acrescenta ele, que nos últimos dias atendeu clientes que foram à loja. O consumidor não entrava no estabelecimento, esperava a entrega do lado de fora.
EM CASA
A Quixote é outra que buscou meios alternativos de comércio. Criou, em suas redes sociais, a iniciativa Quixote em Casa, com venda via WhatsApp e contato direto com os livreiros. “Não tenho site, competir com os grandes é muito difícil. Temos convivência muito próxima com o cliente, então pensamos nesse meio”, comenta Cláudia Masini.
Só ela vai à loja, já que os sete funcionários estão em casa. Ainda que pedidos possam ser feitos em qualquer horário, as entregas vêm sendo realizadas, via motoboy, às segundas e quintas. Assim como Bernardo Ferreira, Cláudia concorda que as vendas são “insuficientes” frente aos custos. “Há poucas encomendas. Elas vêm, principalmente, de pessoas que apoiam a livraria.”
Para fortalecer as pequenas lojas, editoras já começaram a agir. A Quixote é a primeira a participar da campanha Adote uma Livraria. Criada pela editora mineira Âyiné, a campanha destinará 35% da venda do site (ayine.com.br) a uma livraria independente. Não importa o título adquirido.
Cada livraria participa por dois dias da campanha – a Quixote foi escolhida para estrear o projeto, que entrou ontem no ar (ou seja, as vendas desta terça-feira serão repassadas à empresa). Já são 10 livrarias (de São Paulo, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Curitiba e Goiânia) participando da campanha, até 11 de abril. O modelo da campanha foi inspirado na iniciativa de uma editora italiana.
Outra editora que está ajudando as pequenas livrarias neste momento de incertezas é a Companhia das Letras. “Ela se dispôs a entregar (ao comprador) o livro dela adquirido diretamente de uma pequena livraria. A compra é paga para a loja, mas a entrega sai direto da editora. É uma coisa interessante”, comenta Leida Reis
Mesmo com um espaço mínimo – 12 metros quadrados, o que faz da Páginas a menor livraria de BH –, ela tem um bom catálogo. Além de títulos das grandes editoras, seu acervo traz 160 de editoras locais e 90 próprios, da Páginas. Conta também com um pequeno sebo, com cerca de 150 títulos, selecionados por Leida de seu próprio acervo.
EUA
Com criatividade, livrarias independentes norte-americanas estão conseguindo manter os clientes. Matéria do The New York Times destacou a iniciativa da The Raven Book Store, no Kansas. Não há mais venda on-line. As entregas se dão na casa dos compradores. Ou clientes aguardam na calçada da loja. “Estamos operando como uma pizzaria. Mas você não pode ficar aqui e comer sua pizza, basicamente”, afirmou o proprietário, Danny Caine.
Gerente d’A Cappella Books em Atlanta, Geórgia, Onyew Kim entrega, em média, 10 livros, usando uma bicicleta. Já a Novel, livraria em Memphis, Tennessee, estimula o debate on-line. Pelo aplicativo de teleconferência Zoom, 25 pessoas discutiram o romance Estação Onze, da autora canadense Emily St. John Mandel. A narrativa, que vai e volta no tempo, aborda a vida de um grupo de pessoas antes e depois de uma pandemia. No Brasil, o livro saiu pela Intrínseca.
» LIVRARIA OUVIDOR
Vendas pelo WhatsApp: (31) 98316-5228
» LIVRARIA SCRIPTUM
Vendas pelo WhatsApp: (31) 99951-1789 e site livrariascriptum.com.br
» PÁGINAS LIVRARIA
Vendas pelo WhatsApp (31) 97174-8773 e site paginaseditora.com.br
» QUIXOTE LIVRARIA
Vendas pelo WhatsApp (31) 98676-1007
JUNTOS PELO LIVRO
Um grupo de editoras lançou a campanha Juntos pelo Livro, que já conta, inclusive, com o meme “Desculpe, Netflix. Se é para ficar em casa, eu prefiro livros”. Por sua vez, a gaúcha L&PM (lpm.com.br) está liberando um e-book grátis a cada dia. A HarperCollins (harpercollins.com.br), até domingo (29), oferecerá sete e-books gratuitos (um por dia). A Editora do Brasil disponibiliza, sem custos, no site editoradobrasil.com.br, livros on-line de formação para professores e gestores de escolas do ensino básico.
OUTONO EM CASA
O Sempre um Papo criou a iniciativa #OutonoEmCasa. Durante a quarentena, em seu canal no YouTube, serão indicados programas com escritores que participaram do projeto. Um dos destaques é a edição com Adélia Prado, gravada nos 30 anos do Sempre um Papo, em 16 de março de 2016. Outra dica é o encontro com o teólogo e escritor Leonardo Boff, ocorrido em 2017, no qual ele falou sobre a importância da gentileza e da solidariedade. O canal reúne 400 gravações com autores brasileiros e portugueses. Inscrições: www.youtube.com/user/info8888
Fonte: matéria publicada no www.uai.com.br
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